ressaca eterna sobre faq index

17.11.15

as voltas que o mundo dá.

No blog antigão, meu primeiro blog, com fundo preto e letra de cores neon, eu fazia contagem regressiva para vir para o Brasil. Quase dez anos depois estou eu aqui, em outro blog, de fundo branco e letra de cor neutra (os olhos agradecem), fazendo contagem regressiva pra voltar de onde vim. Ainda estou tentando descobrir se é um ciclo que se encerra ou é um ciclo que se repete.

12.8.15

105 dias antes.

Falta pouco e eu fico eternamente alternando entre empolgação e um medo horrível. As noites são sempre piores, mas as noites costumam ser sempre piores pra tudo. Será que isso, será que aquilo, mas e se…

A passagem tá comprada e agora não tem mais volta. It’s happening.

Estou tentando me consolar com um novo mantra que acho que li no blog de alguém: “Dê o primeiro passo e o chão virá”. O chão sempre vem.

Meu maior medo mesmo é de desperdiçar a chance. De continuar tudo igual dentro de mim. Tem muita coisa que precisa mudar que não se resume ao meu endereço. Eu tenho essa tendência de achar que uma coisa isolada vai mudar minha vida, e vou lá atrás de tal coisa e a consigo e nada acontece. Aí vou eu correndo atrás da próxima coisa que vai salvar minha vida. O que vai salvar minha vida agora é Berlim.

E a gente pode depositar a esperança em tudo quanto é coisa, em tudo quanto é gente, em tudo quanto é lugar. Só que nada salva a gente a não ser a gente mesmo.

As noites são sempre piores e eu deveria começar a escrever de manhã.

22.6.15

hammering in my head.

O vizinho do prédio ao lado, quase colado com a parede do meu quarto, ficou em obra por quase um ano. De Segunda e Sábado, oito horas da manhã, começava a batucada e não parava nunca. Ouvia a conversa dos pedreiros, coisa caindo no chão, parede sendo furada, madeira sendo serrada, e o bang bang bang de marreta. Vizinho subiu um andar, depois subiu outro e a obra não acabava nunca. Até que um dia, na hora do almoço, percebemos que estava silêncio.


No dia seguinte, silêncio também. E no dia depois daquele... silêncio. Fazia tanto tempo que eu não estava mais acostumada a ouvir as coisas sem um constante bang bang bang de fundo. Pode até parecer drama, mas até a música parecia melhor, e não se precisava mais gritar pra conversar em determinados momentos do dia. Durou duas semanas.
Acordo eu hoje de manhã, sozinha em casa, desço pra fazer o café e sento no sofá com o copo de 400ml, estico as pernas pra ver True Blood e escuto um barulho estranho vindo do andar de cima. Como não continuou, assumi que fosse algum dos gatos derrubando alguma coisa. Aí na hora do almoço começa, bang bang bang, ainda mais próximo. Parecem estar batendo diretamente na parede do meu quarto com uma bola de demolição. Achei que fosse subir e encontrar um buraco em cima da minha cama, que um pedreiro ia botar a cabeça pra dentro e me pedir um copo d'água.


bang. bang. bang. BANG. Senhor, diga-me por favor o que eu fiz pra merecer tamanha provação?

Update: Dia 11 de Agosto e a obra continua firme e forte. 
Update 2: Dia 17 de Novembro e adivinha? A obra ainda não acabou.

21.6.15

no more bad dreams.

Ontem, pela primeira vez em muito tempo, acordei de um pesadelo com medo. Pra falar a verdade, fazia um bom tempo que não tinha sonho ruim (e quando tinha, não ligava). Despertei e senti uma sensação horrível no peito, um desespero, impotência, vontade de chorar, uma presença ruim ao meu lado. Peguei o computador e tentei me distrair, acabei adormecendo de novo, tendo outro sonho ruim e acordando quase meio-dia.

Anda muita coisa na minha cabeça ultimamente. Fico me preocupando com o Lucas na cadeia, indignada com a merda que é a nossa justiça e como a gente é impotente perante ela, e não sei até que ponto isso é transferência (no sentido psicanalítico), porque tenho lembrado com muito mais intensidade que o normal da época que visitei meu biogenitor numa prisão. Engraçado essa coisa de memória, né. Eu tinha uns seis anos de idade e até hoje não consigo comer Chokito porque uma moça que estava visitando o filho me ofereceu uma caixa, e agora o chocolate pra mim é sinônimo de reviver aquela visita à cadeia.

Então tem isso, tem uma preocupação latente que minha saúde mental (e física) esteja deteriorando, que eu esteja depositando todas as minhas esperanças num evento só, tem um pavor de que voltar pra Europa ressuscite um monte de sentimentos ruins, a sensação de que eu sou uma refugiada sem pátria, de que nada vai dar certo, de que eu tô sendo otimista demais, de que eu tô muito velha pra ser alguma coisa da vida (Torschlusspanik), que não vou dar conta de passar em Cálculo, de que meu cachorro tá morrendo e eu tô me afastando das pessoas, e tudo culminou num sonho horrível.

Alguém alguma vez disse que a gente não pode se tornar mais aberto ao prazer sem também se tornar mais aberto ao sofrimento. Tô esperando a primeira parte dessa frase ainda, porque a segunda tô tirando de letra.

Talvez tenha voltado, talvez não.

Tô tentando voltar a usar isso aqui. Por muito tempo tentei me manter longe, com medo de contaminar minha eu super otimista de 2009 com esse poço de negatividade, ansiedade e estresse que a eu de 2016 virou. Mas aí lembrei que isso aqui costumava ser uma válvula de escape despretensiosa, criada pra narrar as babaquices do meu dia-a-dia, sem mais nem menos, sem nenhum propósito ou significado profundo por trás. Era eu e pronto. E eu gostava daqui.

Vou dar uma organizada e tentar deixar tudo bonitinho e passar mais tempo no conforto desse blog.

Na pior das hipóteses, apago a besteira que fiz e deixo a eu de 2009 intacta, quietinha, guardada numa redoma de vidro.

10.5.15

Agridoce (mais pra agri que pra doce).

Visitar esse blog é quase como fazer um passeio entre lembranças gostosas, uma penseira virtual, assistir um filme. Me visito em terceira pessoa, sei lá por quê. É uma mistura desequilibrada de doce e amargo. Relembrar os bons momentos e lamentar sua perda. Acho que acabo me prendendo demais ao passado, recuso demais as mudanças, reluto em aceitar que crescer às vezes é sinônimo de perder. Pois é uma sinfonia agridoce essa vida, você tenta viver dentro de seus recursos, você vira escravo do dinheiro e depois morre. É meio estranho para onde nossa sociedade está se encaminhando. A geração facebook, a geração selfies no instagram, pensamentos comprimidos em 140 caracteres. A gente passa nossa vida se acostumando a ver as coisas em quadrados. Fotos e telas de celular e monitores de computador. Um bando de dados codificados e decodificados para produzir alguma coisa artificial. Qual a diferença de qualquer forma, se tudo que as pessoas fazem o dia inteiro é olhar para um telefone? Ao mesmo tempo que eu amo a tecnologia e todas as facilidades que ela nos proporciona, outra parte de mim meio que se pergunta se a vida não seria ainda mais fácil sem as 'facilidades'. Sei lá. Ultimamente eu não sei de nada.